Ela está sempre quieta, olhando para o nada, como se esperasse por alguma coisa e ao mesmo tempo não esperasse. Deve haver um meio termo entre as duas coisas, não sei. Ela é um mistério para mim, e para ela também, pelo que pude notar nas nossas poucas conversas. Ela me olha como se eu fosse o único cara do planeta, e eu só tenho coragem para sustentar o olhar por cinco segundos, no máximo, até virar o rosto e tentar imaginar o que ela está pensando. Eu não tenho medo dela, nem ela de mim, temos medo mesmo é de não sabermos o que fazer com isso que surgiu do nada. E que, talvez, não passe disso. Temos medo de não saber o que fazer com o que há de se fazer. Medo de fazer o necessário sem conseguir fazê-lo necessariamente correto. Esse medo incomum que impregna nossos olhares por poucos segundos é o mesmo medo de não conseguirmos nunca mais impregnar esse olhar sem sentir aquela pontinha de desejo um pelo outro por muito tempo. Temos medo de não sermos o que éramos antes disso, e acabar nos transformando em personagens secundários do nosso próprio filme – da nossa própria vida. Temos medo de não conseguir ter medo da solidão proporcionada pela ausência do outro, de saber o que dizer e não conseguir dizer, de saber como agir e não conseguir agir. O desconhecimento mútuo que nos provoca essa sensação de inquietação, é o que nos leva a crer que, lá no fundo, o medo não passa de um probleminha infantil que pode ser resolvido por um entrelaço das nossas mãos tão proporcionalmente desiguais e a união dos nossos lábios que esperam serem beijados agora, nesse instante, enquanto nossos pensamentos se encontram – inebriantes e distantes do mundo, num lugar só nosso, eu e ela, assistindo um daqueles seriados que assisto, ou lendo algum livro que estava empoeirado na estante. Esse medo involuntário é o mesmo que já estava em coma há anos, e agora acabou voltando à vida por uma recíproca dilatação de pupilas, que, até então, não foi assumida, pois estamos tão acostumados a ter medo, que temos medo de não tê-lo mais. O medo é o que nos mantém vivos, já dizia algum filósofo de botequim. Eu tenho medo de conseguir me manter vivo sem ela.”
— | Junior Lima. |
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